CARNAVAL E SAMBA: ‘UNHA E CARNE’

 

(Foto Divulgação).

Por Daniel Sales
Historiador de Carnaval

Samba é um ritmo; é música, e de certa forma também, uma festa, nascida e aperfeiçoada no Brasil. Carnaval é a própria festa milenar, que engloba outros ritmos e músicas: marchinha, axé baiano (termo nascido e difundido nos anos de 1980), cateretê, mazurca, marcha-rancho, Afoxé, samba de Enredo, frevo, Maxixe, marinera latina, saya, Morenada boliviana e peruana, vallenato, por certo tempo, a polca, quadrilhas, etc.

O Samba tem ano de nascimento unânime, 1918, quando Donga, no Rio de Janeiro, gravou uma música, a famosa “ Pelo Telefone”, imortalizada na voz do sambista Martinho da Vila (ou Martinho da Boca do Mato, segundo Sérgio Cabral, em seu livro, “A história das Escolas de Samba do Rio de Janeiro”, 1996. Boca do Mato foi a primeira escola de Martinho, até 1965), depois houve o aprimoramento desse ritmo, desprendendo-se do Maxixe brasileiro, que tinha muita influência européia ainda e fazendo-se valer por si só e acompanhado do surgimento das Escolas de Samba “Deixa falar” – que depois se transformou em Unidos de São Carlos e somente em 1984, em Estácio de Sá.

Já o Carnaval, como um grande Rio, possui suas nascentes na Antiga Roma pré-cristã, nas festas das Saturnálias, em homenagem ao deus Saturno, e mais longínquo ainda – na Antiga Grécia Homérica–, das festas das bacantes, nos “bacanais”, os famosos Ditirambos, na glorificação ao deus Baco (ou Dionísio), o deus do vinho e da alegria. Há ainda os que preferem comodamente citar as origens do Carnaval vindo dos sumerianos ou dos egípcios, como uma festa puramente agrícola, de comemoração das colheitas anuais. Mas a origem coletiva, por osmose, é agrícola.

Para o Brasil, veio o batuque negro (de várias regiões do continente africano), mesclado ao Entrudo Ibérico, dando uma peculiar forma de se divertir no Carnaval. Eram tisnas das panelas usadas, sebo de carneiro, farinha de trigo, lama, féculas diversas, e até urina… eram jogados nos foliões. Conta–se que também o imperador D. Pedro II entrou nas brincadeiras carnavalescas, onde “tudo era permitido”, nas festas dos nobres na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, cidade então capital do Império.

O Carnaval é festa Universal: na Bolívia, por exemplo – principalmente em Oruro – dança-se a colorida “Diablada”, com suas famosas “caretas”; há lá também a “Morenada”, onde as roupas das lindas mulheres morenas se assemelham (e muito) com as das cirandas amazonenses; e ao som de tambores e matracas, bailam em conjunto pela grande avenida; em Veneza, no norte da Itália, é muito famoso o desfile das Máscaras pelos canais da cidade alagada; Em Nova Orleans, EUA – que em 2005 foi arrasada por um grande Furacão – muita música e festas envolventes, com grande influência negra; em Recife-PE, prefere-se o frevo e o Desfile do Galo da Madrugada, com seu mais de um milhão de pessoas (que há tempos possui a sua sucursal em Manaus); na Bahia, o axé-music, Olodum e muitos outros ritmos frenéticos, ou mesmo monótonos, tais melopéias; mas são muitos os grupos que por lá inovam, e como foram as baianas e os baianos, os que ajudaram a se constituir esse universo sambista no Rio de Janeiro, no início do Séc. XX – inclusive com forma matriarcal de gerenciamento familiar –, então sempre se esperava algo inovador da Bahia – gostando–se ou não!

No Rio de Janeiro, em São Paulo, Manaus, Vitória, Florianópolis, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, Macapá, Porto Velho, enfim, em várias capitais, despontam os Desfiles de Escolas de Samba, Cordões, Ranchos, Blocos de embalo, de enredo e Blocos de sujo (herança do Entrudo) com o ritmo de Samba de Enredo. Sabe–se que o ritmo brasileiro nos Carnavais do final do Séc. XIX (nos fidalgos salões) eram essencialmente: Polcas, Valsas, Quadrilhas francesas e Maxixe (já um pouco mais popular e que sobreviveu por mais tempo).

Como foi anunciado, o samba propriamente dito só adentrou nos Salões, décadas depois de 1918. As “marchinhas” – tais quais dobrados militares, porém, de ritmo mais veloz, imperaram quase que absolutas durante 50 anos! Até hoje, quando se “toca” um samba nos salões mais tradicionais cariocas, este é mais cadenciado, com “molho”, geralmente o cantor interpreta o samba de enredo, na forma de “pianinho" – gíria do sambista que significa bem de mansinho, devagar –, já que o “barulho”, o ruído intenso e a amplificação sonora são mais para as quadras e às avenidas de desfiles desse “Brasilzão”.

É, portanto, uma forma de sofisticação e diferenciação. Durante muito tempo, no Carnaval Carioca, prevaleceram os Ranchos, como os famosos: Tenentes do diabo, os Democráticos e os Fenianos. Todos eles, fundados na década de 60 do Séc. XIX. Havia também as Grandes Sociedades, com seus suntuosos carros alegóricos e outros Ranchos, como o Ameno Resedá, que já podia ser comparado às Escolas de Samba. Note-se que foi somente em meados dos anos 40 do Séc. XX, que as escolas de samba do Rio começaram a pôr carros alegóricos (pequenos e mal feitos) em seus desfiles.

Em 1939, no segundo título da Portela, desfilaram na águia de Madureira apenas 90 (noventa) componentes! E para época era muita gente! Segundo um dos seus diretores, ao afirmar que a Escola “parecia um Rancho”, tal a quantidade de foliões! Pois é! “maiores” eram os Ranchos, até mesmo nos subsídios estatais, o resto – o que sobrava do dinheiro dado pelo governo – era para as então nascentes escolas de samba.
Os primeiros desfiles das escolas ocorreram na Praça 11 de junho. Com o decorrer do tempo alcançou as grandes avenidas. Em 1984, no governo de Leonel Brizola, houve a inauguração do Sambódromo, próximo (geograficamente) ao antigo local de desfiles. Em Manaus, o Sambódromo teve o início de suas obras em 1990. Seu término construtivo se deu em 1994.
Fora construído ao lado do estádio Vivaldo Lima (Atual Arena da Amazônia).



Fotos Divulgação.









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Fonte: Daniel Sales



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